Não há como entender a transformação do Brasil numa potência agrícola, capaz de produzir muito e com muita eficiência, sem levar em conta a contribuição da Embrapa, celebrada durante anos como um dos principais institutos de pesquisa agropecuária de todo o mundo |
Não
há como entender a transformação do Brasil numa potência
agrícola, capaz de produzir muito e com muita eficiência, sem
levar em conta a contribuição da Embrapa, celebrada durante anos
como um dos principais institutos de pesquisa agropecuária de
todo o mundo. Mas a Embrapa é hoje bem menos importante do que
foi durante um quarto de século, desde sua criação nos anos 70.
Perdeu relevância como fornecedora de sementes, num mercado há
vários anos dominado por grandes empresas multinacionais, e, na
era Lula, deixou de receber do próprio governo a atenção e os
recursos necessários a um trabalho relevante de pesquisa, de
inovação e de criação de oportunidades para a produção rural
brasileira.
Durante anos, a empresa liderou as
pesquisas relevantes para o Brasil, contribuindo para a expansão
de culturas novas e comercialmente importantes, como a soja, para
o aumento da produtividade de lavouras essenciais para a dieta do
brasileiro, para o barateamento da alimentação e também - dado
nem sempre lembrado - para a ocupação produtiva de novas e
amplas porções do território, como as enormes áreas de
Cerrado.
Depois de anos de liderança, cumprindo uma
função estratégica da máxima importância, a Embrapa começou
a perder terreno. Demorou, por preconceito de seus dirigentes, a
avançar na pesquisa de transgênicos, enquanto o setor privado se
expandia velozmente nessa área científica e tecnológica. Quase
ficou sem rumo, quando o primeiro governo do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva ensaiou submetê-la à sua política de
aparelhamento político. Mas, quando isso ocorreu, sua presença
no mercado de sementes já havia sido consideravelmente reduzida,
em consequência de mudanças no financiamento das lavouras.
Nos
últimos 20 anos, empresas privadas, principalmente multinacionais
fornecedoras de sementes e de insumos agroquímicos, assumiram
crescente importância no financiamento do custeio agrícola. Isso
alterou a ordem dos procedimentos. Tradicionalmente os
agricultores tomavam empréstimos bancários - oficiais, na maior
parte - e em seguida compravam as sementes, fertilizantes e
defensivos para o plantio e para o trato das lavouras. Muitos
ainda seguem esse roteiro. Um grande número, no entanto, passou a
negociar diretamente com as empresas fornecedoras de
insumos.
Como parte do novo sistema, esses produtores
passaram a vender antecipadamente a safra, ou parte dela. Pode ter
sido uma solução cômoda para agricultores e para a indústria,
e uma das consequências da mudança foi a criação de um mercado
cativo, ou quase, para as sementes desenvolvidas pelo setor
privado.
Essa mudança havia começado antes da
difusão dos transgênicos, como observa o agrônomo e economista
José Sidnei Gonçalves, pesquisador do Instituto de Economia
Agrícola do governo paulista. Sem participar do novo padrão de
financiamento, a genética desenvolvida pelo setor público ficou
fora do jogo. "Ao menos para as grandes lavouras, o trem-bala
do capital financeiro fechou as portas ao custeio da safra, fechou
as portas na cara da pesquisa pública", comenta o
pesquisador.
A Embrapa e outros institutos públicos
de pesquisa e difusão de tecnologia contribuíram de forma
decisiva para a criação de uma agropecuária moderna e
competitiva no Brasil. Mas o setor privado, munido tanto de um
sistema de pesquisas quanto de um eficiente aparelho comercial e
financeiro, implantou um novo jogo, enfraquecendo os vínculos
entre as entidades públicas e o mercado. O corte do orçamento da
Embrapa e as mudanças de orientação do governo contribuíram de
forma adicional para a sua perda de relevância.
É
hora de repensar a missão da Embrapa e as formas de financiar
suas atividades. Não tem sentido separá-la do mercado e da linha
ambiciosa de trabalho seguida com sucesso durante décadas, mas é
preciso replanejar seu papel estratégico e sua posição no
sistema produtivo. Será o caso de abrir seu capital, como já se
propôs? Não é fácil a resposta, mas seria um erro grave
descartar essa hipótese por mero preconceito. É preciso pensar o
futuro da Embrapa com criatividade e ousadia à altura de sua
história.
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Aqui temos notícias e ações da Cajucultura Nacional, com ênfase no Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí, que juntos, respondem por 96% da produção nacional. Estamos unidos para enfrentarmos as dificuldades da nossa atividade e juntos, buscar soluções que venham a ajudar a todos, sem exceção, trocando experiências e agindo junto ao poder público para fazer valer nossos direitos. // Correspondente CE: Normando Soares // Correspondente RN: Elano Ferreira // Correspondente do PI:
segunda-feira, 9 de abril de 2012
Hora de revalorizar a Embrapa
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