terça-feira, 20 de dezembro de 2011

"Agroindústria do caju no Brasil: duas décadas perdidas" - Dr. João Pratagil Pereira de Araújo, grande cearense, enfatiza o que temos falado aqui em nosso Blog

O Povo - 20.12.201101:30


"Nada ou muito pouco foi realizado. Os cajueiros comuns continuam com baixíssimas produtividades"



Há cerca de 17 anos escrevi neste mesmo espaço o artigo Agroindústria do Caju tem novos horizontes. Nele abordei a quebra de safra da castanha de caju de 1993; a decisão de importação de 30 mil toneladas de castanha de caju da África; a demissão de 10 mil trabalhadores das indústrias de beneficiamento da castanha de caju - ACC e a safra de castanha de 1994, inferior à capacidade de processamento das indústrias. 

Apesar disso, fui otimista em função das seguintes evidências: fixação de preço mínimo para a castanha de caju; inclusão do caju nos financiamentos do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste -FNE/Banco do Nordeste; elaboração de Planos de Recuperação da Cajucultura dos estados do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte; anúncio da criação de Fundo de Reserva; e a disponibilização das tecnologias do cajueiro anão precoce, que multiplicariam por cinco a produtividade.


Após duas décadas, constata-se que nada ou muito pouco foi realizado. Os cajueiros comuns continuam com baixíssimas produtividades de castanhas em 2010 (Ceará, 98 kg/ha, Piauí, 85 kg/ha e Rio Grande do Norte, 219 kg/ha). Para compensar a quebra da safra foram importadas 20 mil toneladas de castanha de caju da África.


Enquanto aqui dominou o laissez-faire, outros países asiáticos e africanos, com olho no crescimento do consumo da ACC, investiram em tecnologia e expansão de área. Entre 1995/1997 e 2005/2007, o Brasil aumentou a produção em 20%, a Nigéria em 473%, o Vietnã em 305% e a Índia em 49%. As produtividades também foram superiores: Brasil, 269 kg/ha, Vietnã, 2.705 Kg/ha, Nigéria, 1.971 Kg/ha, e Índia, 692 Kg/ha.


Assim, essa agroindústria perdeu duas décadas, milhões de dólares e milhares de empregos diretos e indiretos. Já está comprovado que o desenvolvimento de um negócio, para ter competitividade e sustentabilidade, deve ter a participação e a ação dos governos, da academia e da iniciativa privada. Os três planejam e definem uma agenda comum para ser executada.


O Brasil reúne todas as condições geográficas, logísticas, tecnológicas, financeiras e humanas para, em dez anos, exportar o equivalente a US$ 500 milhões com a ACC e outros produtos do caju. Basta considerar este como um agronegócio bilionário, que gera resultados econômicos e sociais e que exige gestão estratégica, execução, proatividade, profissionalismo, inovação social e tecnológica e continuidade das políticas públicas. Só assim se evitará mais uma década perdida.

João Pratagil Pereira de Araújo
Doutor em Agronomia

Fonte: O Povo (Clique aqui!)

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